PREFÁCIO

 

A minha melhor poesia é aquela que nunca escrevi

e que talvez nunca escreverei...

Morrerá improfícua...

Como uma lágrima seca... dentro de mim.


                                                                De Hyppólito

 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Monólogo da Saudade






Já dizia o Poeta:
“Quem sente saudade nunca está sozinho, e a gente tem saudade de tudo nesta vida... de tudo!”.*

Sim, é verdade! Eu sinto saudade de cada momento de minha vida, foi ele bom, foi ele ruim.

Eu sinto saudade da escola que frequentei, dos professores ranzinzas que bocejavam sobre velhos livros, das torturantes lições de casa, da agonia nos dias de prova, do medo que tinha do olhar enérgico da Diretora e até da Servente mal-educada que batia o portão na minha cara quando eu me atrasava para a aula.

Eu sinto saudade daquele vizinho chato que furava a minha bola, caso ela caísse em seu quintal, da fofoqueira da rua, que debruçada na janela passava o dia inteiro a espionar a vizinhança, do vendedor de biju vindo com sua matraca infernal e do padeiro, que de bicicleta chegava tocando uma estridente buzina.

Sinto saudade do cheiro da comida gostosa que minha vó fazia e até do gosto amargo do remédio que ela empurrava por minha goela abaixo, sinto saudade da voz de minha mãe “desafinando” canções enquanto lavava a louça e até daquele programa chato que ela ouvia no rádio toda manhã.

Sinto saudade de escutar meu pai nos almoços de domingo contando as mesmas piadas sem graça, hoje até rio quando delas me lembro, pois na vida escutei piadas bem piores do que aquelas.

Sinto saudade daqueles tempos em que não havia tantos prazos, tantas metas. Computador era “Coisa da Nasa”, as cartas não tinham a volúpia e a efemeridade dos e-mails. Robô...? Só se via assistindo “Perdidos no Espaço” e controle remoto era só o do olhar de minha mãe, quando íamos visitar alguém, me dizendo “Não mexa em nada que não seja seu”.

Sim...! O Poeta tinha razão, “a gente sente saudade de tudo nesta vida... De um silêncio, da música de um pé cantando pela escada... de um divã, de um adeus, de uma lágrima até!”.*


                                                                                                                 
*Do Poema "Saudade" de Guilherme Almeida

Nenhum comentário: