PREFÁCIO

 

A minha melhor poesia é aquela que nunca escrevi

e que talvez nunca escreverei...

Morrerá improfícua...

Como uma lágrima seca... dentro de mim.


                                                                De Hyppólito

 

sábado, 17 de maio de 2008

"Via Crucis"


À minha mãe (1937-2002)

Assim temo, a evocar-te a imagem linda,
Que, após a morte, venha a eternidade
Esta separação tornar infinda...
E, então, o sentimento que me invade,
Sem a esperança de te ver ainda,
É dor eterna, não é mais saudade.”
Da Costa e Silva


Por que deixaste tão cedo a estrada,
E foste ao pé de um arbusto descansar?
Será que estavas assim tão cansada?
Precisavas tão depressa te ausentar?

Por que carregaste tantas mágoas, castigos...
E fizeste de teu caminhar um suplício?
Por que levaste tanta dor contigo,
Tornando tua peregrinação tão difícil?

Por que não entregaste a Deus teus temores,
E não confiaste a um amigo o que sofrias?
Por que tua senda fez-se em um calvário de dores,
Não notaste, que mesmo em prantos, a vida te sorria?

Por que não colheste a flor à beira do caminho,
E não sentiste o perfume que dela exalava?
Por que não te deste o direito a um carinho,
E não olhaste para a criança que ao teu redor brincava?

Por que escolheste a trilha mais íngreme e penosa,
E não viste o caminho amplo que para ti se abria?
Por que só enxergaste os espinhos e não a rosa,
E não percebeste o anjo que de perto te seguia?

Não...! Não era para ser este o rumo de teus passos...
Não...! O destino insiste em cínico blefar...
Por isso em meus dias de hoje...o fracasso...
De não poder as peças de tua existência, juntar...

A tua estrada hoje está deserta...vazia...
Nela sonho ver-te com passos firmes caminhar...
Nela sonho um sol que te acaricia,
Como se fosse as mãos de Deus a te abraçar...

Noturno

"Mas vejo, no alvo mármore das urnas,
O Silêncio com o dedo sobre o lábio,
Olhando as vagas solidões noturnas..."
Da Costa e Silva
As coisas que amei, onde se encontram...?
As que amo por que não as sinto...?
Onde será que enterrei minha alma
para estar alheio a tantas emoções...?

Quero ir ao encontro de tudo que vivi
Reavivar sentimentos e ilusões
Aquecer minhas frias mãos
num sol intenso de lembranças...

Redescobrir manhãs nítidas de esperança...
Reviver noites soberbas de encanto...
Poder tocar as coisas que amei intensamente,
e tocando... sentir que as amo novamente...

Hoje! Nesta frieza em que me abismo,
entregue a um maldito calculismo,
sinto a paz dos que desistem,
a letargia dos que não crêem...

Sinto o passado distante, para lembrá-lo...
O futuro longe, para tocá-lo...
E o presente, perto demais...
Para senti-lo...


"Tempo de Solidão"



“Uma vida que termina com a morte
é uma vida cheia de amargura.”
Abu Al-Atahia

Para alguém que se esqueceu que, se errar é humano, perdoar é divino”.


Que fatalidade...! Meu Deus...! Que Fatalidade...!
Véus de mortalha, teu horizonte a cobrir. Já é tarde...
Teu tempo de solidão, finalmente se inicia...
Mas não assim...! Não desta forma...! Não nesta agonia...!

Que fatalidade...! Que Deus seja contigo...!
Que de piedade mitigue teu castigo,
Pois partes desta vida com grandes danos,
Levando teu ideal coberto de enganos.

Nada plantaste, também, nada colheste.
O tempo te enganou e não percebeste.
Só agora compreendendo da vida a trama,

É que entendo, que de perdoar esqueceste,
Por isto, como uma vela solitária, derreteste,
Num pires frio...sem calor...sem chama...