A Última Estação
E saí para ver a natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao céu!
Augusto dos Anjos
Eis que o trem vem
chegando lentamente a sua última estação.
Vem carregado de
lembranças e de paisagens esquecidas,
vem sem pressa
singrando um mar de trilhos silenciosos,
deixando para trás
pouco a pouco as cores da vida...
Há neste trem tantos
vagões atrelados
e nestes vagões tão
pouco espaço...
Que não caberiam neles,
de forma alguma,
a imensidão de nossos
medos e cansaços...
E o comboio doloroso,
celeremente devagar, avança...
e há nessa lentidão
tanta pressa de se chegar ao destino,
que de suas rodas
saem faíscas e as dormentes dos trilhos
Ígneas se abrasam e
desestruturadas soltam seus pinos.
O trem vacila e na
derradeira curva, quase tomba...
Mas o condutor é
hábil, na linha o mantém com maestria
e o recompõe ao seu
caminho. E o trem avança..!
Levando agora um peso
a mais, o de nossa dor...de nossa agonia...
E nós... egoístas,
pedimos aos céus que a última estação
não seja a próxima...
que seja outra e que a outra seja distante...
Mas não somos nós que
decidimos... não temos este poder...
E o trem avança para
derradeira estação e na vagarosidade de um instante...
Para na última estância.
Na plataforma seres convulsos o aguardam...
Desligam-se as
engrenagens e num encanto de alavanca... o trem estanca...
O som do último apito
por um céu coberto de aflições... se alastra...
É a voz do tempo
silenciando a vida numa doçura repleta de aceitação,
é a voz de Deus, no
ponto final, dizendo... Basta..!