PREFÁCIO

 

A minha melhor poesia é aquela que nunca escrevi

e que talvez nunca escreverei...

Morrerá improfícua...

Como uma lágrima seca... dentro de mim.


                                                                De Hyppólito

 

quarta-feira, 28 de setembro de 2016




A Última Estação

 E saí para ver a natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...

Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao céu!
                                                                                                                                   
                                                                                                                                                                             Augusto dos Anjos




Eis que o trem vem chegando lentamente a sua última estação.
Vem carregado de lembranças e de paisagens esquecidas,
vem sem pressa singrando um mar de trilhos silenciosos,
deixando para trás pouco a pouco as cores da vida...


Há neste trem tantos vagões atrelados
e nestes vagões tão pouco espaço...
Que não caberiam neles, de forma alguma,
a imensidão de nossos medos e cansaços...


E o comboio doloroso, celeremente devagar, avança...
e há nessa lentidão tanta pressa de se chegar ao destino,
que de suas rodas saem faíscas e as dormentes dos trilhos
Ígneas se abrasam e desestruturadas soltam seus pinos.


O trem vacila e na derradeira curva, quase tomba...
Mas o condutor é hábil, na linha o mantém com maestria
e o recompõe ao seu caminho. E o trem avança..!
Levando agora um peso a mais, o de nossa dor...de nossa agonia...


E nós... egoístas, pedimos aos céus que a última estação
não seja a próxima... que seja outra e que a outra seja distante...
Mas não somos nós que decidimos... não temos este poder...
E o trem avança para derradeira estação e na vagarosidade de um instante...


Para na última estância. Na plataforma seres convulsos o aguardam...
Desligam-se as engrenagens e num encanto de alavanca... o trem estanca...
O som do último apito por um céu coberto de aflições... se alastra...
É a voz do tempo silenciando a vida numa doçura repleta de aceitação,
é a voz de Deus, no ponto final, dizendo... Basta..!