No inferno da visão alucinada,
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Augusto dos Anjos
Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,
Viu vísceras vermelhas pelo chão ...
E amou, com um berro bárbaro de gozo,
o monocromatismo monstruoso
Daquela universal vermelhidão!
Augusto dos Anjos
Que faço eu, altas
horas..., neste cemitério?
O que vim buscar
aqui... Deitando-me sobre as tumbas?
É meia-noite...
Começam as danças sepulcrais,
Onde corpos
combalidos, freneticamente vão dançando
A última valsa dos
mortais...
Que busco ver, neste
funéreo baile?
Será o prazer de
contemplar a humana decomposição...?
Será o enlevo dos
abutres vorazes
A se esbaldarem neste
tétrico jardim...?
Ou será o repulsivo
júbilo dos vermes
A se banquetearem
neste fúnebre festim...?
As horas passam... A
necrópole horrenda, desperta...
E num lúgubre cortejo
de vísceras expostas,
Vão cantando nênias
de maldição,
Violando o silêncio
das catacumbas,
Num festival de
membros em dissolução...
A madrugada avança...ouço gargalhadas...
É a multidão dos
corpos dissipados,
Rindo da torpe
veracidade dos diagnósticos,
Da fria onisciência
dos médicos,
Da tosca inutilidade
das orações.
Rindo, talvez... Da
parda esterilidade dos remédios...
Da híbrida
onipotência dos cirurgiões.