Já vai longe a primavera... os campos verdejantes...
Onde a criança brincava. O céu azul... inebriante...
Flores brotando... ramalhetes de sonho infantil,
A perfumar de alegria, a crença pueril.
Tempo de paz...um lago calmo...rara beleza...
Os frutos doces...cantigas de roda... “as malvadezas...”.
O horizonte abrindo-se largo, sem fronteiras.
A mãe, zelosa, dando as broncas corriqueiras.
Os dias eram longos. As alegrias, também...
O choro era breve... nosso riso ia mais além...
Tínhamos esperança e dos sonhos, a amplidão.
E tudo isso, cabia, na palma de nossa mão.
Já vai longe o verão...! Campos em chamas...
Onde o jovem se abrasa. Ígneo, o céu se inflama.
Paixões brotam em buquês. Os desejos juvenis
Perfumando o ar libidinoso...arroubos...desvarios...
Tempo do amor...! Um mar em fúria...! O templo da beleza...!
Corpos em êxtase...canções promíscuas... “as safadezas...”.
O horizonte a esmo, largo...sem fronteiras.
E a mesma mãe, ciosa, a nos falar “asneiras”.
Os dias eram intensos. Os prazeres, também...
O pranto efêmero...nosso gozo ia mais além...
Tínhamos vigor, a energia fluía de nossas mãos.
E toda essa força, cabia, em nosso coração.
Já vem chegando o outono...! Campos pelo vento, açoitados.
Onde o homem cisma. Gris, o céu parece desbotado.
Flores murchando...o medo se abrindo em buquês...
Um cheiro agridoce a nos encher de dúvidas e porquês...
O tempo é rápido...! Um mar que oscila na incerteza...!
O corpo se exaure na instável correnteza.
O horizonte vai se fechando. Ao longe...as fronteiras.
E a mãe, ausente...suas palavras sábias...verdadeiras...
Os dias passam céleres. As venturas, também...
O choro prolonga-se...a dor vai mais além...
O vigor se esvai...escapa pela nossa mão...
E toda essa angustia, cabe, em nosso coração.
O inverno se aproxima...! Campos de geada, cobertos.
Onde o velho decai. Cinéreo é o céu...o pôr-do-sol, deserto...
Folhas secas num ramalhete de flores estioladas.
Um cheiro acre a perfumar a alma cansada.
O tempo para... um pântano estagnado na imundície...
Os frutos bichados...nênias ao vento... “as caduquices...”.
O horizonte não mais se avista. Superamos todas as fronteiras.
A mãe saudosa...chama...! É a viajem derradeira...
Os dias passam lentos. A agonia, também...
O riso se estanca...o tédio vai um pouco mais além...
Os tempos idos trazem luz e trevas ao coração.
E tanta vida...longe...fora do alcance de nossa mão...