PREFÁCIO

 

A minha melhor poesia é aquela que nunca escrevi

e que talvez nunca escreverei...

Morrerá improfícua...

Como uma lágrima seca... dentro de mim.


                                                                De Hyppólito

 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A Dor do Entardecer




                                                            À minha mãe “muito doente”
                                                          Ao meu pai “cheio de fé”

                                                           Poema escrito em 2002


O cenário perfeito... uma casa... um jardim...
Em uma praça calma. A paz... enfim...
Sentada em sua cadeira, rodeada de afetos,
Poderás, feliz, receber teus netos.

As mágoas foram esquecidas, feridas, cicatrizadas.
Os rancores diluídos, as dores estancadas.
De más recordações não mais se fala,
A incerteza do futuro nada mais abala.

Mas o destino... que sempre brinca com o imponderável,
No cenário perfeito, coloca um intruso... irremediável.
A paz torna-se, então, apática... Seus olhos se fixam no nada.
Teu corpo cede... Pressentindo, talvez, o fim da estrada...

E ele, “Dom Quixote”, visionário... cheio de esperança,
Avança contra os moinhos de vento, e com sua lança
Abate o gigantesco monstro que te devora...
Ele crê...! E como essa crença me apavora...

A muito perdi a fé e pela descrença fui derrotado.
Eu já sonhei assim e queria poder estar ao seu lado,
Empunhando a lança... a esperança... com a fé em riste.
Mas sou apenas um cavaleiro miserável e triste...

Queria algo poder fazer, em vão tento me esforçar,
Mas, só tenho caudais de lágrimas no olhar.
Contemplo, inerte, a dor deste entardecer,
E nesse instante começo a envelhecer...

                                                                                    

Passos Íntimos




Baseado na carta de Jair Ferreira, “Pedaços de Mim”,
paciente da Psicóloga Andréa Santarelli Alves (minha esposa).

"Dedico a todos os pacientes que, ao longo de minha carreira,
têm me ensinado que,  na vida, não se caminha somente com as pernas."
                                                                                                                Andréa Santarelli Alves



Uma parte minha é fortaleza,
Outra se desmancha feito algodão.
Uma pergunta a Deus: Por quê?
A outra agradece e diz: Seja feita a vossa vontade!

Uma parte minha cede à vaidade,
A outra percebe, que gravatas emboloram-se nas gavetas,
Que belos ternos se desbotam com o tempo,
E que o ser humano pode ser feliz com pouco.

Queria, sim, queria...
Andar descalço pela praia,
Sentindo a brisa quente a me encher de sol,
Mas... não se caminha só com os pés,
Caminha-se também com a alma.

Uma parte minha tolera,
Outra, de tolerar se cansa.
É preciso compreender que há outras pessoas
Que junto comigo trilham os mesmos passos.

Sim! Tolerar é preciso... descrer não é preciso.
É preciso aprender a lidar com perdas,
Pois sempre na perda, algo se ganha.

Uma parte minha se desespera na impaciência,
Outra aceita tudo com humildade,
Pois ser humilde não significa entregar-se.

Há dificuldades que se vencem encarando-as no espelho,
Sem falsos artifícios, sem maquiagem.
Pois o que somos importa mais do que aquilo que aparentamos ser.

Uma parte minha espera,
A outra descrê.
Uma parte perdoa,
A outra castiga.
O perdão tem que ser sincero,
De dentro pra fora, sem hipocrisia.

Os meus planos e sonhos sobreviveram comigo,
E com eles posso enfrentar:
 A Vida e seus infortúnios,
O Mundo e seus preconceitos.

Sim! Não preciso de meus pés para caminhar,
Minha alma é forte...
Com ela destrancarei todas as portas,
Abrirei todas as janelas,
Superarei todos os limites que me são impostos.

Uma parte minha, acredita!
A outra, também.
Uma parte minha é fortaleza,
A outra, também.
Sim! Minha alma, enfim, caminha...

                                                                                

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Monólogo da Saudade






Já dizia o Poeta:
“Quem sente saudade nunca está sozinho, e a gente tem saudade de tudo nesta vida... de tudo!”.*

Sim, é verdade! Eu sinto saudade de cada momento de minha vida, foi ele bom, foi ele ruim.

Eu sinto saudade da escola que frequentei, dos professores ranzinzas que bocejavam sobre velhos livros, das torturantes lições de casa, da agonia nos dias de prova, do medo que tinha do olhar enérgico da Diretora e até da Servente mal-educada que batia o portão na minha cara quando eu me atrasava para a aula.

Eu sinto saudade daquele vizinho chato que furava a minha bola, caso ela caísse em seu quintal, da fofoqueira da rua, que debruçada na janela passava o dia inteiro a espionar a vizinhança, do vendedor de biju vindo com sua matraca infernal e do padeiro, que de bicicleta chegava tocando uma estridente buzina.

Sinto saudade do cheiro da comida gostosa que minha vó fazia e até do gosto amargo do remédio que ela empurrava por minha goela abaixo, sinto saudade da voz de minha mãe “desafinando” canções enquanto lavava a louça e até daquele programa chato que ela ouvia no rádio toda manhã.

Sinto saudade de escutar meu pai nos almoços de domingo contando as mesmas piadas sem graça, hoje até rio quando delas me lembro, pois na vida escutei piadas bem piores do que aquelas.

Sinto saudade daqueles tempos em que não havia tantos prazos, tantas metas. Computador era “Coisa da Nasa”, as cartas não tinham a volúpia e a efemeridade dos e-mails. Robô...? Só se via assistindo “Perdidos no Espaço” e controle remoto era só o do olhar de minha mãe, quando íamos visitar alguém, me dizendo “Não mexa em nada que não seja seu”.

Sim...! O Poeta tinha razão, “a gente sente saudade de tudo nesta vida... De um silêncio, da música de um pé cantando pela escada... de um divã, de um adeus, de uma lágrima até!”.*


                                                                                                                 
*Do Poema "Saudade" de Guilherme Almeida

Subterrâneos da Alma





Se um dia... pudesses penetrar, em espírito,
A cela abandonada de meu ser;
E dentro dela sentisses a atmosfera acre dos jazigos.
O que pensarias de ver ao chão tantos ídolos tombados?
E ao lado deles... tantas cruzes...
Tantos sonhos sepultados...?

E se aqui dentro te detivestes?
O que dirias se escutasses, enfim...?
A imensidão absurda deste silêncio,
E o monótono gotejar da melancolia,
Ecoando, eternamente, dentro de mim...?